Friday, October 31, 2008

Poesia

Thanks to a newly found blog, this is the second Portuguese author that I have discovered.






Ruy Belo

Na Colina do Instante


Há um cheiro de absinto quando os capricórnios
da casca apodrecida dos carvalhos velhos
iniciam seu voo pelo mês de junho
Colhemos avelãs ao longo do jardim
onde as tílias ao vento espalham o aroma
A frescura da fruta vence o sol rasante
Somos quem fomos caminhamos tão de leve
temos tamanha dignidade de crianças
que nem a morte aqui de nós se lembraria
nem mesmo a monstruosa flor de outros destinos
nem qualquer outra das repúblicas do ódio
encresparia o calmo mar do fim da tarde
É à celebração sagrada do acaso
à festa da essência mineral do mundo
que o sol procede no segredo deste templo
A tarde é tudo e tudo são caminhos
Somos eleitos cúmplices da hora
Aqui não chega o desatino do verão
esqueço a aversão dos meus antepassados
e levanto-me sobre a derradeira luz
Por instantes sou eu ninguém morreu aqui
ó minha vida esse processo que perdi



© 1973, Ruy Belo
From: Todos os Poemas
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon, 2000
ISBN: 972-37-0617-2

ON THE HILL OF THIS MOMENT


A hint of absinthe fills the air when the beetles
emerging from the rotten bark of the old oaks
begin their flight in the month of june
Picking hazelnuts we walk through the garden
where the lindens’ aroma wafts in the breeze
The coolness of the fruit defeats the declining sun
We are who we used to be walking so softly
with so much childlike dignity
that here not even death would remember us
nor would the monstrous flower of other destinies
or any other of the republics of hatred
stir up the calm sea of this late afternoon
It is to the sacred celebration of chance
to the feast of the world’s mineral essence
that the sun is proceeding in this temple’s inner sanctum
The afternoon is everything and everything is pathways
We are the chosen assistants to this hour
Here summer’s insanity doesn’t arrive
and I quit loathing my ancestors
and I rise as the last light flickers
For a moment I am I and here no one died
O my life that process I left behind



© Translation: 2005, Richard Zenith

1 comment:

rff said...

Ruy de Moura Belo (São João da Ribeira, Rio Maior, 27 de Fevereiro de 1933-Queluz, 8 de Agosto de 1978) foi um poeta e ensaísta português.

Tendo sido, na sua passagem pela imprensa, director literário da Editorial Aster e chefe de redacção da revista Rumo, os seus primeiros livros de poesia foram Aquele Grande Rio Eufrates (1961) e O Problema da Habitação (1962). Às colectâneas de ensaios Poesia Nova (1961) e Na Senda da Poesia (1969), seguiram-se obras cuja temática se prende ao religioso e ao metafísico, sob a forma de interrogações acerca da existência. É o caso de Boca Bilingue (1966), Homem de Palavras(s) (1969), País Possível (1973, antologia), Transporte no Tempo (1973), A Margem da Alegria (1974), Toda a Terra (1976) e Despeço-me da Terra da Alegria (1977). O versilibrismo dos seus poemas conjuga-se com um domínio das técnicas poéticas tradicionais. A sua obra, organizada em três volumes sob o título Obra Poética de Ruy Belo, em 1981, foi, entretanto, alvo de revisitação crítica, sendo considerada uma das obras cimeiras, apesar da brevidade da vida do poeta, da poesia portuguesa contemporânea.

Apesar do curto período de actividade literária, Ruy Belo tornou-se um dos maiores poetas portugueses da segunda metade deste século, tendo as suas obras sido reeditadas diversas vezes.

In Wikipédia.

Saúde